terça-feira, maio 19, 2009

Ser estranho*

-Porque prometer, tu não confias em mim ?
-Sabes que sim, mas promete, va la ...
-Ai, esta bem, eu prometo.
-Obrigada, mesmo.
-Não sei porque, se confiasses em mim não seria tão importante prometer ...

(...)
Estou sem voz, fui deixando palavras e sinais em cada troca de olhares, nos teus lábios, nos teus ouvidos, nas tuas mãos, nos teus carinhos, nos teus abraços e tu nem estremeceste, ignoras-te.
Quero acreditar que acalmar este meu ser é fácil. Tens tudo de mim, mas falta-me algo de ti. Sinto-me a congelar quando agarro pensamentos contigo, quando volto atrás no livro de recordações e encontro a conversa que mais me assusta, que mais me arrepia.
Vozes, vozes, vozes. Um bilião de vozes concentradas num sítio só. Analiso com bastante precisão cada uma delas ate encontrar, depois de alguns minutos, aquela que me faz suspirar. Nesse instante paro, talvez demasiado perto de um estranho. Um estranho diferente que me olha nos olhos como se pedisse para ir com ele, algo que o meu corpo recusa de imediato, que o meu coração não entende. Vejo aquele estranho com ansiedade, romantismo e reajo a ele com batimentos fortes e acelerados, parece que o meu coração quer saltar e ser ele a apanhar o estranho primeiro que eu. Mas o estranho antecipa-se, aproximando-se mais e mais ate estar suficientemente próximo para poder segredar só para mim " Amo-te, prometo. " Pega-me na mão, aperta-a contra o peito e sinto que esta ainda mais ansioso do que eu. Nesse momento dou conta que existo, e que estou completamente imóvel à bastante tempo. O estranho esboça um sorriso carinhoso e volto a perder-me. Leva-me a rasto pela mão ate a um canto rebuscado onde me aperta num gesto suave contra si e me beija levemente os lábios. Ganho de novo o controlo do meu pequeno corpo, atiro o estranho ser contra a parede bem a tempo de lhe dizer, praticamente sem voz " Demasiado tarde ".
Dou meia volta e começo a correr, ouvindo passos que correm atrás de mim, talvez o estranho, não sei, mas nem dou importância porque pararam pouco tempo depois. Quando sinto que estou demasiado longe, deixo o corpo cair.
Ligo a música ate não conseguir ouvir mais nada, deixo o tempo passar e ser gasto em pensamentos.
Ser estranho, agora, não mereces nada daquilo que te quero dar, nem daquilo que corre por ti, como esta lágrima que vejo secar na palma da mão.

Ser estranho sim, porque já não és aquele que conheci, aquele que era fantástico e único, aquele que fazia as promessas mais verdadeiras. Aquele que eu aprendi a amar. E esse já não és tu.

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