domingo, dezembro 06, 2009

Não quero, não posso e não consigo*

" Faz-me um favor. Apaga a luz e fecha a porta ... "

Está escuro, é noite e a chuva lá fora teima em não parar de cair. Não sinto medo porque a voz que vem do aparelho portátil que repousa ao meu lado até me faz rir e me abstrai de tudo o resto.
" Eu já te ligo, sim? "

Ouço os três toques da despedida e o ecrã escurece, mas não me apetece esperar sozinha, isso faz-me confusão. Também não me apetece levantar da cama e juntar-me aos demais que na sala se riem de algo que não sei bem o que é. Parece-me a mim que a única saída é, então, a musica.
Começa com alguns acordes baixos mas rapidamente chega a voz forte e grave.
Neste estado de espírito me encontro com os olhos feitos em água e um aperto irremediavelmente doloroso no peito. Mal reparo na quantidade de lágrimas que escorrem porque esta escuro e a musica encobre o som dos meus soluços.
As mãos começam a tremer, e seguidamente a elas todo o meu corpo se renega sob um forte abalo. Dos lábios não brotam palavras mas gritos silenciosos de dor e desespero.
Estou perdida no meio de um ambiente tão familiar como o meu próprio quarto e não sei como me encontrar. Na minha mente só correm palavras, sons e imagens que parecem fazer força e pressão para que eu deixe de respirar e perca o dom a da vida.
Não aguento mais esta pressão, este ambiente. Porque é que os sonhos não voltam? Não me querem mais fazer sorrir ?

Agarro os joelhos em acto de desespero e ecrã do pequeno ecrã portátil que se encontra aos meus pés brilha intensamente embora não possa fazer nada por mim este teima em não parar de piscar e piscar. Sim, a voz voltou a ligar e não demorou nada nada como tinha prometido, mas agora não posso atender, não posso deixar que ninguém me veja assim, neste tal pranto em que me encontro.
A luz teima em fazer-se a saída de toda esta escuridão que se rende à minha volta mas nem assim consegue levar-me toda esta dor que sinto.

Como eu queria voltar ao tempo em que as Cartas ao Pai Natal eram a esperança de ver debaixo da árvore, num grande e pomposo embrulho, os meus desejos realizados. Mas o que esta a acontecer é que estou a crescer e eu tenho de aceitar isso.

Sem comentários:

Enviar um comentário