terça-feira, dezembro 21, 2010

Sim? Não? Talvez? *

A qualquer hora, em qualquer dia, com qualquer humor, quer faça chuva ou sol, seja manha, tarde ou noite, estão lá e nunca vão deixar de ser fantasmas.
Eternizam-se sem vontade de se ver dissipados por qualquer tratamento verbal que nos apeteça dar-lhes, por muito que queiramos fazê-lo. São quase como filmes de terror, para mim, capazes de me tirar o sono por três noites consecutivas. E mesmo que não chegue a tanto, uma noite que seja é suficiente para perturbar o meu ser por definição calmo e extrovertido. E, para lá do mal psicológico, até o sorriso, tão característico da minha face, apagam nos dias em que renascem em maior numero, ou numa situação mais oportuna ao seu desenvolvimento.
O pior, ou melhor, é que ninguém me vê quando eles chegam a atingir o meu coração, porque aprendi a guarda-los até todos estarem a dormir, e assim são os meus segredos.
Só que é difícil segura-los. Sou pequena, frágil e a força não é muita. Cada vez estou mais sensível. Eles assaltam-me enquanto passeio, e então vacilo, ou enquanto me deito, e ai aproveito os lençóis. Até mesmo enquanto sonho, e acordam-me ou no tempo em que aproveito daquele ombro, e então envolvo o corpo num abraço e afago a cara no pescoço mais bem perfumado com o qual tive oportunidade de privar, e foram muito poucos.
São assim inesperados e não me deixam alternativa que não absorve-los e usufruir da sua vinda, sejam bons ou maus.
Mas, quando me preparo para lhes tirar todas as teimas e acalma-los, para que possam, pelo menos, esconder-se por uns tempos, recuo, perco o jeito e a vontade, cerro os lábios e calo-os. E eles ficam lá, e crescem. Sentem-se felizes, porque se enraízam e duram mais tempo. Já eu perco a vez de questionar, de descobrir. De conquistar mais de mim, aniquilando-os. Em vez disso, transformam-se num ciclo vicioso, que cresce com os dias e as noites e parece nunca mais ter fim.
Deve ser este o motivo que me faz gostar tanto das crianças. A sua inocência perdoa-lhes tudo, e são, muitas vezes, inconvenientes, mas nunca cerram os pensamentos.

Porque os porquês podem ser complicados, por vezes impensáveis e inquestionáveis, mas arranjam sempre uma resposta a medida, para a plena satisfação desses serzinhos do futuro.


E até pode parecer que não, mas tenho uma actividade mental infindável, que nem sempre é inventiva. Ás vezes sou bem mais do que pareço.

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